Archive for the ‘pensamento’ category

Uuuuuaaaauuuuuuuu!!!!!!

novembro 19, 2008

…imitando o República no título com as vogais seguidas…preciso dizer que quase tive orgasmos ao ver essa discussão…porque eles disseram o quer não consigo dizer por incompetência, mesmo….
Mas vocês precisam ver esse vídeo!!!!

Só para ajudar a portugueses, sobre as referências….A Operação Satiagraha foi uma operação da polícia federal sobre crimes financeiros. A polícia federal nos últimos anos investigou como nunca e descobriu muitos crimes de colarinho branco, desvio de verbas, sonegação de impostos, etc. Ótimo, não? Acontece que, nada é tão óbvio nos bastidores do poder, e paralelamente a isso, descobriu-se que a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) estava grampeando o presidente do Supremo Tribunal Federal. E a partir daí começou um a discussão ferrenha em torno do assunto (grampos) uma das formas mais eficientes da polícia federal chegar a culpados de crimes…inclusive com alguns argumentos desconfiados de que, nessa última Operação Satiagraha a polícia tinha ido longe demais e mexido com gente grande. A verdade ideal??????….difícil saber… Deixei alguns links para fins de informação:

http://www.oragoo.net/o-que-significa-satiagraha-satyagraha/
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL639895-9356,00.html
http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2008/operacaosatiagraha/
http://dn.sapo.pt/2008/09/02/internacional/secreta_brasileira_manteve_president.html
http://www.gp1.com.br/noticias/escuta-telefonica-feita-pela-policia-federal-desmonta-esquema-da-familia-sarney-51012.asp
http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=escutas+pol%C3%ADcia+federal&btnG=Pesquisar&meta=
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u432683.shtml

outras referências, o assassinato da freira no Pará

http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=82003
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL463375-5598,00.html

e a demora da justiça no caso Pimenta Neves, ex diretor de “O Estado De São Paulo”

Por que achei demais, essa discussão?

Porque é libertária, no meu entender, ao mesmo tempo que provocativa.

…eu já caí na armadilha de desclassificar o debatedor chamando-o de burro…aqui no blog…ninguém está livre desses escorregões…ás vezes…
eu também já disse muitas besteiras…
eu também tenho alguns defeitos que “assumo” e espero que por isso todos aceitem…simplesmente porque assumo…
Acho legal poder falar disso, porque a gente vai melhorando a visão crítica do mundo e de nós mesmos…
E o que gostei muito,também, é de poder dizer que há muita coisa por aí sobre a qual a gente sabe muito pouco…o mundo está muito complexo, e sobre certos assuntos…sinceramente, tenho a impressão que há mais escondido que visível.

http://www.terra.com.br/istoe/1613/brasil/1613capa_pimenta.htm

O tempo andava me comendo….

junho 30, 2008

Ontem vi Viviane Mosé na Cultura. (Vi Viviane, deixo assim, gostei) Ela, além de me traduzir Nietzsche…ficou clarinho…clarinho… recitou esse seu poema, dela. (ou são dois?…não sei…)Precisei publicar.
quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele
soprando sulcos na pele
soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)acho que a vida anda passando a mão em mim

a vida anda passando a mão em mim

acho que a vida anda passando
a vida anda passando

acho que a vida anda
a vida anda em mim

acho que há vida em mim

a vida em mim anda passando
acho que a vida anda passando a mão em mim

e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse:
tempo se você tem que me comer que seja com o meu consentimento e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

veja o vídeo neste link, vale a pena:
http://www.cpflcultura.com.br/videoteca_2008.aspx?pageSize=12&pageIndex=0&videoteca_categoria_ID=0&videoteca_ID=171&Home=0

O tempo andava me comendo….

junho 30, 2008

Ontem vi Viviane Mosé na Cultura. (Vi Viviane, deixo assim, gostei) Ela, além de me traduzir Nietzsche…ficou clarinho…clarinho… recitou esse seu poema, dela. (ou são dois?…não sei…)Precisei publicar.
quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele
soprando sulcos na pele
soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)

acho que a vida anda passando a mão em mim

a vida anda passando a mão em mim

acho que a vida anda passando
a vida anda passando

acho que a vida anda
a vida anda em mim

acho que há vida em mim

a vida em mim anda passando
acho que a vida anda passando a mão em mim

e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse:
tempo se você tem que me comer que seja com o meu consentimento e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

veja o vídeo neste link, vale a pena:
http://www.cpflcultura.com.br/videoteca_2008.aspx?pageSize=12&pageIndex=0&videoteca_categoria_ID=0&videoteca_ID=171&Home=0

Beija minha bunda ! (Kiss my ass!)

junho 23, 2008

familia_8.blogguer

De vez em quando, quando penso em espontaneidade, lembro da cena de um filme bonitinho, com uma ótima fotografia mas talvez clichês demais sobre o que é escrever, viver de verdade, essas coisas.
O que valoriza qualquer criação é a originalidade, nem que seja simplesmente na maneira de dizer.
Mas numa cena, pelo menos, achei que esse filme foi original.Pelo menos para mim, já que é uma cena que ficou na lembrança.
A história é sobre um aspirante a editor que resolve ir atrás de um escritor que ele admirava muito mas que havia deixado de escrever. A intenção é convencer o tal escritor a voltar a fazê-lo. Uma desculpa boba para que o filme se desenvolva, mas que talvez nem perceberíamos em outras circunstâncias, etc, etc….
Aliás, tenho essa teoria de que o que não é uma descoberta pra mim pode ser, é claro, uma descoberta pra outro; e que o que pra mim pode não ser muito , não deve ser desvalorizado, se for uma descoberta pra outro.Se um filme, livro ou o que quer que seja não te trouxe nada de novo, mas só repetiu formulas; pra outras pessoas pode ter sido diferente, pelo seu nivel de informação a respeito de tal assunto, e isso precisa ser respeitado.
É claro que uma certa aversão ao crescimento intelectual, emocional ou de qualquer natureza de alguns é um culto à mediocridade, e certas pessoas abrem mão de repensar as coisas só por orgulho.
Mas existem vários níveis de conhecimento e informação entre as pessoas e isso tem uma certa graça e se a gente se esquece disso se torna tão fechado em si mesmo e inútil quanto se não soubesse nada.
Bem, voltando à cena do filme, num certo momento, depois de muito insistir com o escritor, esse,(interpretado por Harvey Keitel) levanta, sobe em cima da mesa, e desafia:
“Ok, se der um beijo na minha bunda, eu volto a escrever”
O rapaz ficou estupefato com a proposta, gaguejou qualquer coisa, e o escritor disse “Ok, perdeu a oportunidade. Teria durado um segundo e você teria conseguido o que está implorando há horas”

É claro que a cena não era uma propaganda homossexual, e que a maioria das pessoas agiria como o rapaz, não o faria. O filme, bem comportado, dá a idéia de que o escritor sabia disso, por isso provocou.

Mas sempre penso nessa cena como um teste da capacidade de improviso, auto conhecimento, espontaneidade, e ousadia de alguém.

Quantas pessoas que você conhece pensariam rapidamente nos prós e contras de tal atitude e optariam pelo acordo, com a garantia de que obteriam o que queriam?
Só alguém com uma personalidade bem resolvida, que se garante, vai atrás do que quer sem dar muita bola para mesquinharias.
Desde que não tenha que vender sua alma ou prejudicar terceiros, preciso dizer, preocupada em não parecer tão inconsequente.

“Está preocupada demais em se explicar, estragou o argumento e a provocação”, diria o personagem.


Despedida…

junho 19, 2008

Quero deixar aqui minha homenagem ao meu anterior parceiro de blog…
Foram somente três postagens, mas davam a impressão de alguém que chega para marcar presença.
Inteligente, razinza, e um cadinho metido à besta, seria uma personalidade interessante para um blogueiro, mantendo, é claro um certo nível, o que tinha tudo a ver com ele.
Na comunicação, como em tudo mais a gente vai se aperfeiçoando com a prática mesmo, e os bons comunicadores já mostram uma certa facilidade de cara.
Mas a principio ele não tinha muito tempo, depois, ele ficou sem tempo, e em seguida, ficou com menos tempo ainda.
e, infelizmente, não deu.
Mas por enquanto fica aí a sua interessante e promissora contribuição

Mulher

junho 19, 2008


>

sou mulher mas sou direta em dizer o que quero.
sou mulher e sinto enjôo quando dizem que mulher tem que isso, tem que aquilo.
sou mulher mas só choro quando o choro vence, e não tem mesmo jeito, não faço do choro uma bandeira
sou mulher e adoro futebol
sou mulher e odeio grosserias, mas me atraem as opiniões.
sou mulher e me seduz o contraditório; sim e não, ser e não ser, o que geralmente não é bom para uma mulher, então vivo colhendo os frutos podres.
sou mulher e gostaria mais de ganhar o mundo que dos braços de um homem, apesar de apreciar muito os braços de um homem.
sou mulher e dou muita risada.
risadas de todos os tipos, francas,dúbias, aquelas risadinhas divertidas que não duram dois segundos.
sou mulher e sinto
sou mulher e sinto
muito
mas também não faço disso uma bandeira de luta.
sou mulher e tenho umas teorias
todas furadas
com as quais encho a paciencia dos outros
sou mulher e sou espaçosa, brincalhona e expansiva, e ás vezes chata.
sou mulher e quando me dizem que sou chata faço uma grande cara de nada, mas por dentro eu nunca sei se tou aborrecida ou divertida com a acusação.
sou mulher e…
sou mulher e me deixe ser eu….porque vou sempre lhe permitir ser você, por princípio.

Comentários interessantes….

junho 12, 2008

Numa conversa hoje com um amigo português, ele me lembrou essa nota do site Sapo/Lusa.
É uma notícia do dia 10, dia de Portugal,sobre a visita à São Paulo de José Antonio Pinto Ribeiro, Ministro da Cultura de Portugal e sua informação sobre a organização de uma exposição sobre José Saramago, que espero não perder.
Mas o que vale a postagem tardia são os comentários que você pode conferir abaixo, e no link da página referida.
Nada como o bom humor português.
Tenho um humor estranho, não sei se refinado, ou esquisito mesmo.
mas me divirto enormemente com esse tipo de coisa, morro de rir.
E gosto muito do Saramago, o pouco que conheço.
A bronca dessa vez, segundo meu amigo informou, é a declaração de Saramago que acredita que no futuro Portugal e Espanha serão um só.

->LUSA

São Paulo vai receber exposição sobre José Saramago
10 de Junho de 2008, 19:52

São Paulo, Brasil, 10 Jun (Lusa) – A cidade de São Paulo vai reveber uma exposição sobre o escritor português José Saramago, Prémio Nobel de Literatura em 1998, anunciou hoje o ministro português da Cultura.

José António Pinto Ribeiro disse à agência Lusa que a exposição, ainda sem data definida, será feita em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e com o Instituto Tomie Ohtake.

Em passagem por São Paulo para assinalar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o ministro manteve vários encontros com autoridades locais, entre as quais o secretário de Cultura do Estado de São Paulo, João Sayad.

Pinto Ribeiro encontrou-se ainda com representantes de empresas portuguesas e visitou instituições culturais, como o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca do Estado.

“Há muitas coisas que podemos fazer com São Paulo, um centro economicamente muito pujante, mas é culturalmente muito activo e forte, portanto, é possível fazer muita coisa no campo dos intercâmbios culturais”, salientou.

“Queremos trazer mais coisas, queremos mandar para cá jovens artistas portugueses, e tenho mantido contactos para estreitar as relações culturais para que não seja uma promoção apenas de vez em quando”, afirmou.

Pinto Ribeiro participou hoje em diversas actividades para assinalar o Dia de Portugal, como a colocação de flores junto ao busto de Camões, e uma recepção no Consulado-Geral de Portugal.

“Temos que perceber que os portugueses não colonizaram o Brasil. Os portugueses fizeram o Brasil e aqui ficaram. Não foram embora, são como os outros (emigrantes), emigraram e ficaram aqui”, afirmou.

MAN.

Lusa/Fim.

ANTI-RASCAS
EH PÁ,ESSE GAJO É TRAIDOR Á PATRIA.ESSE CAO QUERIA QUE FOSSEMOS ESPANHA.

Comentário submetido em 2008-06-10 às 21:23:21(Reportar comentário abusivo)

Ó Rasca…
por acaso já leste alguma coisa dele?
Por haver estupidos como tu é que o homem deu de sola desta m.erda pra fora.
Pessoalmente eu celebraria o Dia da Raça no WC

Comentário submetido em 2008-06-10 às 23:16:21(Reportar comentário abusivo)

satanás
É preciso ser Espanha e o Brasil a reconhecer o valor de Saramago. Ainda hoje o ignorante do cavaco condecorou o ignorante do vitor baia. O que estas bestas têm feito pelo pais

Comentário submetido em 2008-06-10 às 23:26:13(Reportar comentário abusivo)

JUSTIÇA
ESSE “BOSTA” DE SARAMAGO DEVIA ERA SER QUEIMADO VIVO.
TENHO MAIS ADMIRAÇÃO E RESPEITO POR UM CÃO DO QUE POR ESSE CAGALHÃO!
ELE QUE VÁ VIVER PARA AS FAVELAS DO BRASIL E QUE FIQUE POR LÁ!
AQUI É DISPENSÁVEL

Comentário submetido em 2008-06-11 às 11:01:49(Reportar comentário abusivo)

http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/74fac7c601a1fb01ab7f1a.html

Ao parceiro, com jeitinho.

junho 12, 2008

(o jeitinho é pra manter as aparências, estão nos olhando)
Olha só
Num guentei, postei.
Eu sei que prometi até a mim mesma que não iria ficar atropelando, postando sobre tudo, mas eu sinto uma necessidade esquisita , imperiosa, de novidadear isso aqui.
Eu sei que o que você diria é que o que importa mesmo é novidadear a vida…
Mas a vida é mais complicada que um click.
..além do mais, estou de castigo em frente a esse computador…

Ao mestre, com carinho.

junho 12, 2008

Tendo que lidar com a obrigação de produzir algo para a faculdade e com a minha já conhecida e irritante mediocridade intelectual acabei por esbarrar no grande mestre da cronica diária, que sem contestações nos lembra o que é ser genial.
E o dia ficou melhor, pelo menos.
Rubem Braga era genial quase todo dia, acreditem.

Para blogueiros e blogueiras;
2 cronicas;

Ao respeitável público

São Paulo, 1934.

Chegou meu dia. Todo cronista tem seu dia em que, não tendo nada a escrever, fala da falta de assunto. Chegou meu dia. Que bela tarde para não se escrever!

Esse calor que arrasa tudo; esse Carnaval que está perto, que aí vem no fim da semana; esses jornais lidos e relidos na minha mesa, sem nada interessante; esse cigarro que fumo sem prazer; essas cartas na gaveta onde ninguém me conta nada que possa me fazer mal ou bem; essa perspectiva morna do dia de amanhã; essa lembrança aborrecida do dia de ontem; e outra vez, e sempre, esse calor, esse calor, esse calor…

Portanto, meu distinto leito, portanto, minha encantadora leitora, queiram ter a fineza de retirar os olhos dessa coluna. Não leiam mais. Fiquem sabendo que eu secretamente os odeio a todos, que vocês todos são pessoas aborrecidas e irritantes; que eu desejo sinceramente que todos tenham um péssimo Carnaval, uma horrível quaresma, um infelicíssimo ano de 1934, uma vida toda atrapalhada, uma morte estúpida!

Aproveitem este meu momento de sinceridade e não se iludam com o que eu disser amanhã ou depois, com a minha habitual falta de vergonha. Saibam que o desejo mais sagrado que tenho no peito é mandar vocês todos simplesmente às favas, sem delicadeza nenhuma.

Porque ousam gostar ou aborrecer o que escrevo? O que têm comigo? Acaso me conhecem, sabem alguma coisa de meus problemas, de minha vida? Então, pelo amor de Deus, desapareçam desta coluna. Este jornal tem dezenas de milhares de leitores; porque é que no meio de tanta gente vocês e só vocês, resolveram ler o que escrevo? O jornal é grande, senhorita, é imenso, cavalheiro, tem crimes, tem esporte, tem política, tem cinema, tem uma infinidade de coisas. Aqui, nesta coluna, eu nunca lhes direi nada, mas nada de nada, que sirva para o que quer que seja. E não direi porque não quero; porque não me interessa; porque vocês não me agradam; porque eu os detesto.

Portanto, se a senhorita é bastante teimosa, se o cavalheiro é bastante cabeçudo para me ter lido até aqui, pensem um pouco, sejam bem educados e dêem o fora. Eu faço votos para que vocês todos amanheçam amanhã atacados de febre amarela ou de tifo exantemático. Se houvesse micróbios que eu pudesse lhes transmitir assim, através do jornal, pelos olhos, fiquem sabendo que hoje eu lhes mandaria as piores doenças: tracoma, por exemplo.

Mas ainda insistem? Ah, se eu pudesse escrever aqui alguns insultos e adjetivos que tenho no bico da pena! Eu lhes garanto que não são palavras nada amáveis; são dessas que ofendem toda a família. Mas não posso e não devo. Eu tenho de suportar vocês diariamente, sem descanso e sem remédio. Vocês podem virar a página, podem fugir de mim quando entendem. Eu tenho que estar aqui todo dia, exposto a curiosidade estúpida ou à indiferença humilhante de dezenas de milhares de pessoas.

Fiquem sabendo que eu hoje tinha assunto e os recusei todos. Eu poderia, se quisesse, neste momento, escrever duzentas crônicas engraçadinhas ou tristes, boas ou imbecis, úteis ou inúteis, interessantes ou cacetes. Assunto não falta, porque eu me acostumei a aproveitar qualquer assunto. Mas eu quero hoje precisamente falar claro a vocês todos. Eu quero, pelo menos hoje, dizer o que sinto todo dia: dizer que se eu os aborreço, vocês me aborrecem terrivelmente mais.

Amanhã eu posso voltar bonzinho, manso, jeitoso; posso falar bem de todo mundo, até do governo, até da polícia. Saibam desde já que eu farei isto porque sou cretino por profissão; mas que com todas as forças da alma eu desejo que vocês todos morram de erisipela ou de peste bubônica. Até amanhã. Passem mal.

O conde e o passarinho e Morro do Isolamento

Editora Record 2002


Um braço de mulher

Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que “nós não podemos descer!”. O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado, à espera de ordem para pousar. Procurei acalmar a senhora.

Ela estava tão aflita que embora fizesse frio se abanava com uma revista. Tentei convencê-la de que não devia se abanar, mas acabei achando que era melhor que o fizesse. Ela precisava fazer alguma coisa, e a única providência que aparentemente podia tomar naquele momento de medo era se abanar. Ofereci-lhe meu jornal dobrado, no lugar da revista, e ficou muito grata, como se acreditasse que, produzindo mais vento, adquirisse maior eficiência na sua luta contra a morte.

Gastei cerca de meia hora com a aflição daquela senhora. Notando que uma sua amiga estava em outra poltrona, ofereci-me para trocar de lugar, e ela aceitou. Mas esperei inutilmente que recolhesse as pernas para que eu pudesse sair de meu lugar junto à janela; acabou confessando que assim mesmo estava bem, e preferia ter um homem — “o senhor” — ao lado. Isto lisonjeou meu orgulho de cavalheiro: senti-me útil e responsável. Era por estar ali eu, um homem, que aquele avião não ousava cair. Havia certamente piloto e co-piloto e vários homens no avião. Mas eu era o homem ao lado, o homem visível, próximo, que ela podia tocar. E era nisso que ela confiava: nesse ser de casimira grossa, de gravata, de bigode, a cujo braço acabou se agarrando. Não era o meu braço que apertava, mas um braço de homem, ser de misteriosos atributos de força e proteção.

Chamei a aeromoça, que tentou acalmar a senhora com biscoitos, chicles, cafezinho, palavras de conforto, mão no ombro, algodão nos ouvidos, e uma voz suave e firme que às vezes continha uma leve repreensão e às vezes se entremeava de um sorriso que sem dúvida faz parte do regulamento da aeronáutica civil, o chamado sorriso para ocasiões de teto baixo.

Mas de que vale uma aeromoça? Ela não é muito convincente; é uma funcionária. A senhora evidentemente a considerava uma espécie de cúmplice do avião e da empresa e no fundo (pelo ressentimento com que reagia às suas palavras) responsável por aquele nevoeiro perigoso. A moça em uniforme estava sem dúvida lhe escondendo a verdade e dizendo palavras hipócritas para que ela se deixasse matar sem reagir.

A única pessoa de confiança era evidentemente eu: e aquela senhora, que no aeroporto tinha certo ar desdenhoso e solene, disse suas malcriações para a aeromoça e se agarrou definitivamente a mim. Animei-me então a pôr a minha mão direita sobre a sua mão, que me apertava o braço. Esse gesto de carinho protetor teve um efeito completo: ela deu um profundo suspiro de alívio, cerrou os olhos, pendeu a cabeça ligeiramente para o meu lado e ficou imóvel, quieta. Era claro que a minha mão a protegia contra tudo e contra todos, estava como adormecida.

O avião continuava a rodar monotonamente dentro de uma nuvem escura; quando ele dava um salto mais brusco, eu fornecia à pobre senhora uma garantia suplementar apertando ligeiramente a minha mão sobre a sua: isto sem dúvida lhe fazia bem.

Voltei a olhar tristemente pela vidraça; via a asa direita, um pouco levantada, no meio do nevoeiro. Como a senhora não me desse mais trabalho, e o tempo fosse passando, recomecei a pensar em mim mesmo, triste e fraco assunto.

E de repente me veio a idéia de que na verdade não podíamos ficar eternamente com aquele motor roncando no meio do nevoeiro – e de que eu podia morrer.

Estávamos há muito tempo sobre São Paulo. Talvez chovesse lá embaixo; de qualquer modo a grande cidade, invisível e tão próxima, vivia sua vida indiferente àquele ridículo grupo de homens e mulheres presos dentro de um avião, ali no alto. Pensei em São Paulo e no rapaz de vinte anos que chegou com trinta mil-réis no bolso uma noite e saiu andando pelo antigo viaduto do Chá, sem conhecer uma só pessoa na cidade estranha. Nem aquele velho viaduto existe mais, e o aventuroso rapaz de vinte anos, calado e lírico, é um triste senhor que olha o nevoeiro e pensa na morte.

Outras lembranças me vieram, e me ocorreu que na hora da morte, segundo dizem, a gente se lembra de uma porção de coisas antigas, doces ou tristes. Mas a visão monótona daquela asa no meio da nuvem me dava um torpor, e não pensei mais nada. Era como se o mundo atrás daquele nevoeiro não existisse mais, e por isto pouco me importava morrer. Talvez fosse até bom sentir um choque brutal e tudo se acabar. A morte devia ser aquilo mesmo, um nevoeiro imenso, sem cor, sem forma, para sempre.

Senti prazer em pensar que agora não haveria mais nada, que não seria mais preciso sentir, nem reagir, nem providenciar, nem me torturar; que todas as coisas e criaturas que tinham poder sobre mim e mandavam na minha alegria ou na minha aflição haviam-se apagado e dissolvido naquele mundo de nevoeiro.

A senhora sobressaltou-se de repente e muito aflita começou a me fazer perguntas. O avião estava descendo mais e mais e entretanto não se conseguia enxergar coisa alguma. O motor parecia estar com um som diferente: podia ser aquele o último e desesperado tredo ronco do minuto antes de morrer arrebentado e retorcido. A senhora estendeu o braço direito, segurando 0 encosto da poltrona da frente, e então me dei conta de que aquela mulher de cara um pouco magra e dura tinha um belo braço, harmonioso e musculado.

Fiquei a olhá-lo devagar, desde o ombro forte e suave até as mãos de dedos longos. E me veio uma saudade extraordinária da terra, da beleza humana, da empolgante e longa tonteira do amor. Eu não queria mais morrer, e a idéia da morte me pareceu tão errada, tão feia, tão absurda, que me sobressaltei. A morte era uma coisa cinzenta, escura, sem a graça, sem a delicadeza e o calor, a força macia de um braço ou de uma coxa, a suave irradiação da pele de um corpo de mulher moça.

Mãos, cabelos, corpo, músculos, seios, extraordinário milagre de coisas suaves e sensíveis, tépidas, feitas para serem infinitamente amadas. Toda a fascinação da vida me golpeou, uma tão profunda delícia e gosto de viver uma tão ardente e comovida saudade, que retesei os músculos do corpo, estiquei as pernas, senti um leve ardor nos olhos. Não devia morrer! Aquele meu torpor de segundos atrás pareceu-me de súbito uma coisa doentia, viciosa, e ergui a cabeça, olhei em volta, para os outros passageiros, como se me dispusesse afinal a tomar alguma providência.

Meu gesto pareceu inquietar a senhora. Mas olhando novamente para a vidraça adivinhei casas, um quadrado verde, um pedaço de terra avermelhada, através de um véu de neblina mais rala. Foi uma visão rápida, logo perdida no nevoeiro denso, mas me deu uma certeza profunda de que estávamos salvos porque a terra existia, não era um sonho distante, o mundo não era apenas nevoeiro e havia realmente tudo o que há, casas, árvores, pessoas, chão, o bom chão sólido, imóvel, onde se pode deitar, onde se pode dormir seguro e em todo o sossego, onde um homem pode premer o corpo de uma mulher para amá-la com força, com toda sua fúria de prazer e todos os seus sentidos, com apoio no mundo.

No aeroporto, quando esperava a bagagem, vi de perto a minha vizinha de poltrona. Estava com um senhor de óculos, que, com um talão de despacho na mão, pedia que lhe entregassem a maleta. Ela disse alguma coisa a esse homem, e ele se aproximou de mim com um olhar inquiridor que tentava ser cordial. Estivera muito tempo esperando; a princípio disseram que o avião ia descer logo, era questão de ficar livre a pista; depois alguém anunciara que todos os aviões tinham recebido ordem de pousar em Campinas ou em outro campo; e imaginava quanto incômodo me dera sua senhora, sempre muito nervosa. “Ora, não senhor.” Ele se despediu sem me estender a mão, como se, com aqueles agradecimentos, que fora constrangido pelas circunstâncias a fazer, acabasse de cumprir uma formalidade desagradável com relação a um estranho – que devia permanecer um estranho.

Um estranho — e de certo ponto de vista um intruso, foi assim que me senti perante aquele homem de cara desagradável. Tive a impressão de que de certo modo o traíra, e de que ele o sentia.

Quando se retiravam, a senhora me deu um pequeno sorriso. Tenho uma tendência romântica a imaginar coisas, e imaginei que ela teve o cuidado de me sorrir quando o homem não podia notá-lo, um sorriso sem o visto marital, vagamente cúmplice. Certamente nunca mais a verei, nem o espero. Mas o seu belo braço foi um instante para mim a própria imagem da vida, e não o esquecerei depressa.

O texto acima foi publicado no livro “Os melhores contos – Rubem Braga”, seleção de Davi Arrigucci Jr., Global Editora – São Paulo, e selecionado por Ítalo Moriconi para compor o livro “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, pág. 169.

http://www.releituras.com/rubembraga_menu.asp

Quem foi Rubem Braga em 20 pequenas lições, por Millor Fernandes
http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/colunas/millor/2003/01/18/jorcolmil20030118001.html

Capas: leiam!!!

De novo e pela primeira vez

junho 9, 2008

Sábado fui ver o Lulu no Directv….
não o ouvia há tempos, foi ótimo.

Outras Coisas de Lulu.

Eu vejo a vida melhor no futuro.Eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia
que insiste em nos rodear…

Eu vejo a vida mais clara e farta repleta de toda satisfação que se tem direito
do firmamento ao chão.

Eu quero crer no amor numa boa.Que isso valha pra qualquer pessoa que realizar, a força que tem uma paixão.

Eu vejo um novo começo de era de gente fina elegante e sincera com habilidade
Pra dizer mais sim do que não…

Hoje o tempo voa amor.Escorre pelas mãos. Mesmo sem se sentir.E não há tempo
que volte amor. Vamos viver tudo que há pra viver.Vamos nos permitir…

Ainda vai levar um tempo pra fechar o que feriu por dentro.Natural que seja assim tanto pra você quanto pra mim.Ainda leva uma cara pra gente poder dar risada. Assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade.Não vou dizer que foi ruim, também não foi tão bom assim.Não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais.

Primeiro era vertigem como em qualquer paixão.Era só fechar os olhos e deixar o corpo ir no ritmo.

Depois era um vício, uma intoxicação me corroendo as veias me arrasando pelo chão
mas sempre tinha a cama pronta.E rango no fogão…
Luz acesa. Me espera no portão prá você ver que eu tô voltando pra casa.
Vê. Que eu tô voltando pra casa outra vez…

As vezes é tormenta.Fosse uma navegação.Pode ser que o barco vire também pode ser que não

Já dei meia volta ao mundo levitando de tesão.Tanto gozo e sussurro já impressos no colchão…

Pois sempre tem a cama pronta
E rango no fogão…