Bem…vamos lá….
Sempre me interessou falar de seres humanos, estejam eles onde estiverem, e dessa interação de seres humanos com a tal REALIDADE, que pra alguns pode significar a quantidade de pessoas que simplesmente morrerão de fome hoje, a concessão que talvez precisemos fazer para nos mantermos em certas posições na vida, no trabalho, quando na verdade nossa alma gostaria de outras atitudes… decepções…desilusões… coisas assim, que se forem se tornando todo o nosso molde, vão nos deixando cada vez mais cínicos, com menos alma, espontaneidade, e menos brilho, e etc…etc…
Eu associo a noção de realidade a fatos como os de que o dinheiro manda, de que não conseguimos por mais que todo o mundo pareça disposto a isso, no discurso, ao menos garantir que ninguém nesse mundo precisasse passar fome. Eu associo a noção de realidade ao fato de que todos nós em contato com ela já experimentamos ou experimentaremos a terrível sensação de sermos fracos, covardes, egoístas….
Eu observo as pessoas e vejo essa dança entre ideais e realidade e acho lindo….Aliás acho que é a única coisa que nos salva, quando realmente, não para obtermos uma imagem, não pela interação com o mundo, mas por nós mesmos, pelo nosso respeito próprio conseguimos ter uma atitude ética e decente, a despeito do que a realidade injusta e covarde nos diz.
Então sempre que estou falando de humanidade e pessoas eu estou pensando nesse complexo ESTAR NO MUNDO e EXISTIR; sendo isso pra alguém que já nasça com mil cobranças, com um existir já preparado por outros, ou alguém com mil possibilidades à sua disposição. Pra alguém que nasça com os muitos limites da pobreza ou aquele com mais escolhas…
É isso que está sempre guiando o que penso, quando comento sobre europeus neuróticos com a imigração, ou brasileiros revoltados, africanos e etc….
Talvez por pensar sempre em seres humanos eu consiga ver os muitos defeitos e qualidades neles independentemente de sua conta bancária ou país de origem.
O República falou sobre Portugal, sobre as dificuldades, e imagino que não seja fácil, como não é aqui.
Mas a realidade é sempre uma quadro que pintamos, e como qualquer quadro, sempre fica algo de fora, sendo também uma tentativa de captar um momento que sempre será simplesmente um momento, mesmo que estejamos falando de um momento histórico; é sempre um momento esperando um sem número de ações possíveis sobre ele.
Sobre portugueses maltratados….
Quando eu condeno o discurso de vítima, repetido e reiterado, até que, um ser humano que o traz sempre junto com ele começa a confundi-lo com parte de sua identidade, justificando mil outras atitudes; eu estou me referindo a essa possibilidade tão humana e tão usada em todas as raças cores e credos. Se eu o rejeito entre brasileiros também vou rejeitá-lo entre portugueses que com esse discurso de serem maltrados por estrangeiros, maltratam.
Por aqui só se fala do grande conflito Israel – Palestina , e pensando nesse discurso de vítima , nós podemos olhar esse conflito como algo distante, ou pensar que, como seres humanos estamos sempre sujeitos a desastres parecidos. Esse é um conflito que tem de um lado os judeus, vítimas históricas incontestáveis …não? Mas o poder que os judeus têm hoje, o medo, o acreditar que têm toda a verdade do seu lado, e pronto; aparecem a partir daí as mil facetas humanas…Entram nessa de achar que acabarão com o ódio à força, porque afinal, estão com a razão. Isso pra nem falar do outro lado.
É muito fácil cometer os mesmos erros assim que começamos a achar que isso seria impossível para nós, porque somos os bonzinhos, e, afinal de contas, as vítimas.
A história da humanidade está repleta disso. Grandes revolucionários se tornando ditadores, grandes sonhos se tornando terríveis injustiças. E a primeira condição para isso, (teoria minha), é simplesmente nos esquecermos do nosso lado terrível. Não, não estou aqui fazendo um discurso religioso, aliás as religiões são um bom exemplo de como essa noção de estar com o bem e a verdade absolutos pode ser um grande desastre.
Eu já fui maltratada por portugueses e tinha a opção de repassar o preconceito e ódio ou fazer um blog como esse. E essa opção não foi para “ser legalzinha”. Foi simplesmente uma opção por mim mesma, pelo melhor de mim. Com esse blog só consegui entender um pouco mais a neurose e me conectar com muitas, muitas, pessoas ótimas. Tudo por uma pequena atitude positiva. Então sempre a recomendo.
Sobre humor.
Diz-se que o grande humorista é aquele que consegue perceber o ridículo da REALIDADE, aquela mesma, sobre a qual falei acima. É claro que nosso humor não comporta falarmos da fome mundial, mas situações mais “leves” como esta outra citada, as humilhações nossas de cada dia, em geral, rendem grandes risadas.
O grande problema é que em relação aos negros não me pareceu ter nada a ver com minha realidade, pareceu mais uma caricatura.
Só pra ilustrar. Minha origem é a classe C, como dizemos aqui. Ninguém da minha família passava fome, mas não muito mais que isso. E dali, de onde eu vim, posso dizer que tive contato com negros ao longo da minha vida mais ou menos educados (em ambos os sentidos, de polidez e acadêmico) que qualquer outro branco com quem eu convivesse, aliás, alguns com condições econômicas melhores que as minhas, na ocasião.
Então pra mim não fez mesmo sentido, e a sensação foi de um estereótipo muito primário, até poderia usar o termo ”antigo”. Eu poderia falar de outros estereótipos que poderiam ser usados aqui, como o sambista, o rapper, mas geralmente não acho muita graça em estereótipos. O vídeo do “politicamente correto”, que substituiu os anteriores, esse sim, achei bem engraçado, e se o conhecesse, é bem capaz que já o tivesse usado por aqui. Então, pra fechar o ponto de vista sobre a sua questão ético-filosófica (usei esse termo só pra lembrar uma discussão do passado…eheheeh) sobre os limites do humor, eu não sei se teria algo mais a dizer… sempre achei que pra mim era uma questão de colocar simplesmente meu ponto de vista como brasileira, não mais que isso. Mas é possivel dizer que a ética pessoal, e não a censura dos outros é o que deve regular a nossa existência, não algo negativo, mas a opção pelo melhor de nós mesmos, e isso cada um de nós sabe o que significa.
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