Archive for the ‘injustiça’ category

Sobre a Cegueira….

setembro 24, 2008

Seres humanos e Criminalidade.

Esse final de semana assisti a dois filmes, “Ensaio sobre a Cegueira” e o documentário “Onibus 174″. E os dois, assim como alguns outros a que já assisti nos últimos tempos tratam de um assunto muito atual, apesar de o objeto de discussão ser tão antigo quanto a raça humana.
O bem e mal em todos nós na situação de seres humanos em condições extremas.
Um, em especial, já foi citado aqui, Dogville, mas prometo trazer outros.
Em Ônibus 174, na trajetória de Sandro percebe-se o pouco que foi lhe dado, e por isso, o pouco que ele poderia dar de volta à sociedade. Era alguém invisível, mais um dos meninos de rua que nos incomoda ver e quando apareceu foi com a arma em punho. É equivalente àqueles filhos de pais apáticos e desinteressados que ao invés de olhar para as boas ações, reagem só e sempre às más ações, voltando imediatamente para si mesmos assim que as más ações são coibidas. É claro que estamos falando desse caso, porque se tratando de criminalidade, não há também o mal produzido pelo mimo, falta de limites? Ou simplesmente a disposição ao mal, que dizem, não sei ao certo, que em alguns poucos é uma disposição genética, sendo mesmo assim, o papel fator ambiental importante? Há esse vídeo no globo.com sobre “cérebro moral’

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM855332-7823-DESCUBRA+O+QUE+A+CIENCIA+CHAMA+DE+CEREBRO+MORAL,00.html

Sabemos muito sobre o que pode produzir um criminoso, mas continuamos produzindo, e diagnosticando, produzindo e diagnosticando…

Sobre Sandro, o que pode-se saber?
Sandro viveu no extremo, ficou sem ninguém aos seis anos, viciou-se cedo.
Policiais mal preparados ao lidar com o Sandro sequestrador não sabiam também ali o limite entre humanidade, ética e dever, lidavam mais com a exposição na mídia e imagem do que com qualquer outro valor. Mataram-no por frustração. Sandro era um perigo, por estar sob efeito de drogas, descontrolado, ou nunca feriria ninguém? …é mais fácil opinar agora.

Alguns dias atrás, num caso parecido em Portugal, a polícia, dá um tiro certeiro no sequestrador e encerra a conversa. O curioso, é que um português havia dito aqui no blog, antes disso,que policiais em Portugal não matam bandidos. Bem, nesse caso resolveram matar. A polícia nesse sequestro estava muito preocupada (isso foi no ano 2000) com esse tiro em frente às câmeras. A mídia espetacular do crime estava muito em moda, fazendo grande sucesso, a preocupação não era exatamente com Sandro.

O que quero dizer é que essa discussão de violência não é assim tão fácil ou óbvia. Veja-se, primeiro, em uma situação extrema para saber exatamente quem é você, diz Saramago.

Os personagens do final de “Ensaio” saberiam melhor lidar com Sandro? …fica a pergunta.

O que une o filme e documentário é essa chamada de atençaõ para uma espécie de cegueira que não queremos assumir.
Ensaio sobre a Cegueira trata da oposição já discutida por Carlos Drummond de Andrade em Congresso Internacional do Medo que apresenta o medo como oposto ao amor em lugar do ódio.
Em uma epidemia de cegueira onde as formas de contágio são desconhecidas, o governo resolve ir isolando os contagiados, que muito rapidamente passam a ser estigmatizados, e aí a barbárie toma conta rapidamente da cena.
O que faria VOCÊ numa situação assim?
Fernado Meirelles faz questão, como é a proposta do livro, de não identificar o país onde a epidemia acontece,e tenta retratar apenas uma metrópole qualquer.
Para isso filmou muitas cenas em São Paulo, mas com táxis, placas e qualquer outro pormenor de identificação em inglês, e a tal cidade ficou com uma cara indefinida, porque o filme não tem a linguagem de filme americano.
Acho que a idéia de Saramago era exatamente essa discussão sobre humanos, e não sobre povos. Parece óbvio, mas não é, para muitos, esses que em qualquer sinal de identidade, já tentam enquadrar a discussão a um determinado tipo de ser humano.
Aliás fico pensando que deve ser muito mais fácil entender “Ônibus 174” e Sandro que entender a discussão de Saramago.
Vemos em Ensaio pessoas que mesmo sob condições extremas tentam ser justas e pensar no próximo, pessoas que na primeira oportunidade de poder já mostram o que são, pessoas dominadas pelo medo, há um pouco de tudo.
Aos poucos as pessoas vão se animalizando, e por isso mesmo, valores melhor internalizados, isso é, quem realmente somos é o que conta nessa hora, e quando se passa por isso preservando humanidade, gentileza e bondade ganha-se muito respeito por si mesmo.
Mas ser bom não é de maneira nenhuma ser idiota ou imbecil. Ser bom é também reagir, manter-se de pé quando nossos limites foram ultrapassados, e muito.
Vale muito a pena ver o filme, recomendo.

Sacanagem Capitalista

setembro 17, 2008

a preocupação é impossível de disfarçar….

A sua Santidade, o Grande Senhor dos Mercados,ou melhor, seus fiéis seguidores, fazem um milhão e 22 mil asneiras…abusam…abusam…e abusam da irresponsabilidade…e quem paga??????…claro…os mais fracos. O dinheiro, nessas horas foge para o Tesouro Americano…olha que lindo…
A lei selvagem do capitalismo, afinal de contas, é sempre a mesma e bastante coerente.
… f*****-se os mais fracos…
imaginem se essa palhaçada financeira fosse aqui…o que diriam de nós…seres inferiores…

Sobre Heróis e Identificação.

julho 23, 2008

Sim, nós também temos nossos incriveis nem tão valorizados. Nos últimos tempos o Brasil tem conquistado primeiros lugares, de maneira tão, tão competente, que fica até enjoativo. O negócio é que temos aqui o futebol. E o futebol, é o esporte mais popular no mundo. As caras do futebol são as caras da rua. E todos nós sabemos, que os heróis tanto na literatura, quanto na vida real, se sustentam na identificação. Quanto mais ele te representa, mais você o acompanhará, lembrará dele. Os nossos heróis do vôlei não são exatamente a cara do Brasil povão, a não ser umas poucas exceções como o grande pequeno e competentíssimo levantador Marcelinho.
Nossos heróis tem cara de classe média, mesmo que não sejam, na origem. Expressam-se como classe média, não o português das ruas. O futebol, além de tudo, ainda tem a capacidade de fazer milionários do dia para noite. No vôlei não há essas maluquices.O vôlei também tem seus destaques, mas não é personalista como o futebol. O que é mais evidente no vôlei é a competência do conjunto, algo mais sutil, complexo.Isso faz com que o povo admire só à distancia. Injustiças da vida.

Foto: Giba e Marcelinho

Copa do Mundo (Adulto – Masculino)
Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2003 Japão 1º lugar

2007 Japão 1º lugar

Liga Mundial (Adulto – Masculino)
Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2000 Holanda 3º lugar

2001 Polônia 1º lugar

2002 Brasil 2º lugar

2003 Espanha 1º lugar

2004 Itália 1º lugar

2005 Sérvia Montenegro 1º lugar

2006 Rússia 1º lugar

2007 Polônia 1º lugar

Campeonato Mundial (Adulto – Masculino)
Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2002 Argentina 1º lugar

2006 Japão 1º lugar

Olimpíadas (Adulto – Masculino)
Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2000 Austrália 6º lugar

2004 Grécia 1º lugar

Pan-Americano (Adulto – Masculino)
Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2003 R. Dominicana 3º lugar

2007 Brasil 1º lugar

Sul-Americano (Adulto – Masculino)
Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2001 Colômbia 1º lugar

2003 Brasil 1º lugar

2005 Brasil 1º lugar

2007 Chile 1º lugar


World Grand Champions (Adulto – Masculino)

Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2001 Japão 2º lugar

2005 Japão 1º lugar

Copa América (Adulto – Masculino)
Ano Local do campeonato Colocação do Brasil

2000 Brasil 2º lugar

2001 Argentina 1º lugar

2005 Brasil 2º lugar

2007 Brasil 2° lugar

Socorro!!!!!!!!!

dezembro 5, 2007

F0nte “A Folha de São Paulo”

05/12/2007 – 10h57
Brasil é reprovado, de novo, em matemática e leitura
ANTÔNIO GOISda Folha de S.Paulo, no RioANGELA PINHOda Folha de S.Paulo, em Brasília
A péssima posição do Brasil no ranking de aprendizado em ciências se repetiu nas provas de matemática e leitura. Os resultados do Pisa (sigla, em inglês, para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostram que os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56).
O objetivo do Pisa é comparar o desempenho dos países na educação. Para isso, são aplicados de três em três anos testes a alunos de 15 anos em nações que participam do programa. O ranking de ciências, divulgado na semana passada, colocava o Brasil na 52ª posição.
Além de estarem entre os piores nas três provas nessa lista de países, a maioria dos estudantes brasileiros atinge, no máximo, o menor nível de aprendizado nas disciplinas.
O pior resultado aparece em matemática. Numa escala que vai até seis, 73% dos brasileiros estão situados no nível um ou abaixo disso. Significa, por exemplo, que só conseguem responder questões com contextos familiares e perguntas definidas de forma clara.
Em leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele. Na escala, que vai até cinco nessa prova, significa que são capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples.
Em ciências, 61% tiveram desempenho que os colocam abaixo ou somente no nível um de uma escala que vai até seis. Isso significa que seu conhecimento científico é limitado e aplicado somente a poucas situações familiares.
Nos três casos, a proporção de alunos nos níveis mais baixos é muito maior do que a média da OCDE, que congrega, em sua maioria, países ricos.
Comparando o desempenho do Brasil no exame 2003 (que já era ruim) com o de 2006, as notas pioraram em leitura, ficaram estáveis em ciências e melhoraram em matemática.
Uma melhoria insuficiente, porém, para tirar o país das últimas posições, já que foi em matemática que o país se saiu pior em 2006, com médias superiores apenas às de Quirguistão, Qatar e Tunísia e semelhantes às da Colômbia.
Como há uma margem de erro para cada país, a colocação brasileira pode variar da 53ª, no melhor cenário, para a 55ª, no pior. O mesmo ocorre para as provas de leitura e ciências. No de leitura, varia da 46ª à 51ª. Em ciência, da 50ª à 54ª.
A secretária de Educação do governo José Serra (PSDB-SP), Maria Helena de Castro, diz que o resultado em leitura é lamentável. “Essa é uma macrocompetência, básica para que os alunos desenvolvam as outras, como matemática, raciocínio crítico.” Nos exames, São Paulo ficou abaixo da média nacional nas três áreas avaliadas.
Suely Druck, da Sociedade Brasileira de Matemática, diz que, em geral, os alunos de outros países, assim como os do Brasil, tiveram desempenho pior em matemática na comparação com as outras disciplinas.
“A matemática se distingue das outras porque desde cedo a criança já tem que ter conhecimento teórico e é um aprendizado seqüencial, ou seja, antes de aprender a multiplicar, tem que saber somar.” Por isso, defende que se exija um conteúdo mínimo em matemática para o professor dos primeiros anos do ensino fundamental, quando todas as matérias são ainda ensinadas pela mesma pessoa.
O Pisa permite também comparar meninos e meninas. Em matemática e ciências, no Brasil, eles se saíram melhor. Em leitura, elas foram melhor.

Socorro!!!!!!!!!

dezembro 5, 2007

F0nte “A Folha de São Paulo”

05/12/2007 – 10h57
Brasil é reprovado, de novo, em matemática e leitura
ANTÔNIO GOISda Folha de S.Paulo, no RioANGELA PINHOda Folha de S.Paulo, em Brasília
A péssima posição do Brasil no ranking de aprendizado em ciências se repetiu nas provas de matemática e leitura. Os resultados do Pisa (sigla, em inglês, para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostram que os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56).
O objetivo do Pisa é comparar o desempenho dos países na educação. Para isso, são aplicados de três em três anos testes a alunos de 15 anos em nações que participam do programa. O ranking de ciências, divulgado na semana passada, colocava o Brasil na 52ª posição.
Além de estarem entre os piores nas três provas nessa lista de países, a maioria dos estudantes brasileiros atinge, no máximo, o menor nível de aprendizado nas disciplinas.
O pior resultado aparece em matemática. Numa escala que vai até seis, 73% dos brasileiros estão situados no nível um ou abaixo disso. Significa, por exemplo, que só conseguem responder questões com contextos familiares e perguntas definidas de forma clara.
Em leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele. Na escala, que vai até cinco nessa prova, significa que são capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples.
Em ciências, 61% tiveram desempenho que os colocam abaixo ou somente no nível um de uma escala que vai até seis. Isso significa que seu conhecimento científico é limitado e aplicado somente a poucas situações familiares.
Nos três casos, a proporção de alunos nos níveis mais baixos é muito maior do que a média da OCDE, que congrega, em sua maioria, países ricos.
Comparando o desempenho do Brasil no exame 2003 (que já era ruim) com o de 2006, as notas pioraram em leitura, ficaram estáveis em ciências e melhoraram em matemática.
Uma melhoria insuficiente, porém, para tirar o país das últimas posições, já que foi em matemática que o país se saiu pior em 2006, com médias superiores apenas às de Quirguistão, Qatar e Tunísia e semelhantes às da Colômbia.
Como há uma margem de erro para cada país, a colocação brasileira pode variar da 53ª, no melhor cenário, para a 55ª, no pior. O mesmo ocorre para as provas de leitura e ciências. No de leitura, varia da 46ª à 51ª. Em ciência, da 50ª à 54ª.
A secretária de Educação do governo José Serra (PSDB-SP), Maria Helena de Castro, diz que o resultado em leitura é lamentável. “Essa é uma macrocompetência, básica para que os alunos desenvolvam as outras, como matemática, raciocínio crítico.” Nos exames, São Paulo ficou abaixo da média nacional nas três áreas avaliadas.
Suely Druck, da Sociedade Brasileira de Matemática, diz que, em geral, os alunos de outros países, assim como os do Brasil, tiveram desempenho pior em matemática na comparação com as outras disciplinas.
“A matemática se distingue das outras porque desde cedo a criança já tem que ter conhecimento teórico e é um aprendizado seqüencial, ou seja, antes de aprender a multiplicar, tem que saber somar.” Por isso, defende que se exija um conteúdo mínimo em matemática para o professor dos primeiros anos do ensino fundamental, quando todas as matérias são ainda ensinadas pela mesma pessoa.
O Pisa permite também comparar meninos e meninas. Em matemática e ciências, no Brasil, eles se saíram melhor. Em leitura, elas foram melhor.

Quando a crença é um mal….

outubro 23, 2007

Após descarregar toda a munição da pistola no cineasta Theo van Gogh, o fundamentalista islâmico Mohammed Bouyeri aproximou-se da vítima. Ajoelhado numa rua de Amsterdã, Van Gogh murmurou: “Tem certeza de que não podemos conversar?”. O assassino cortou-lhe a jugular com uma faca de açougueiro e, com outra, espetou no cadáver uma carta endereçada à holandesa de origem somali Ayaan Hirsi Ali: “A próxima será você”. Ayaan é parlamentar em seu país e roteirista de Submissão – Parte I, o curta-metragem de Van Gogh sobre a repressão sofrida pelas mulheres no Islã. Esse é um assunto que ela conhece bem. Aos 5 anos, sofreu excisão do clitóris. Aos 22, fugiu de um casamento arranjado com o primo pelo pai. Refugiada na Holanda, trabalhou como tradutora nos centros sociais para imigrantes e foi brilhante universitária de ciências políticas. Na semana passada, sete meses depois da ameaça de morte, Ayaan, uma negra longilínea de 35 anos, desceu de um carro blindado numa ruela de Paris. Escoltada por seis guarda-costas, falou com exclusividade a VEJA sobre sua renúncia ao islamismo, sobre fundamentalismo e sobre seu encontro com outra célebre vítima da violência religiosa, o escritor britânico Salman Rushdie (tema da reportagem especial desta edição).
Veja – Por que seus inimigos preferem a ameaça de morte ao debate de idéias?Ayaan – A razão é simples: eles não têm nenhum argumento lógico para opor aos meus. Usam o instrumento dos perdedores, a intimidação. Num debate, eles sabem de antemão que seriam derrotados. O assassinato bárbaro de Theo van Gogh pretendeu mostrar o fim de quem ousa criticar o Islã. Enganaram-se. A dor da perda reforçou minha certeza. Essa gente deve ser confrontada. A tarefa dispensa o medo da controvérsia. O combate contra eles começa com a palavra.
Veja – Qual é o problema com o Islã?Ayaan – O problema é o Corão e o profeta Maomé. É a mensagem à qual está sujeito 1,2 bilhão de indivíduos no mundo. O Islã não é só uma religião, mas uma civilização. Seu aspecto político e social, regido por códigos severos, contém sementes fascistas. É um sistema que espolia as liberdades do indivíduo e intervém na sua privacidade sem admitir ser contestado. Nenhum muçulmano é livre para questionar a sua crença religiosa. Ao contrário da Bíblia e do Talmude, livros sagrados dos monoteísmos abraâmicos semelhantes ao islamismo, qualquer exegese do Corão é inadmissível. Os muçulmanos devem crer, cegamente. Eu aprendi a decorar o Corão desde a infância, posso recitar suras inteiras. Algumas delas servem para justificar a violência, liberar a consciência dos seus autores e também dos observadores passivos. Segundo o livro sagrado do islamismo, os fiéis devem aspirar, em permanência, ao conhecimento. O mesmo livro diz que Alá sabe tudo. Toda fonte de conhecimento está contida no Corão. Pergunto, como conciliar as duas exigências? Qualquer comunidade que vive segundo os preceitos de Maomé e do Corão torna-se patológica.
Veja – Numa entrevista, a senhora qualificou o profeta Maomé de tirano e perverso. Por que pensa assim?Ayaan – Disse isso e não nego, nem me arrependo. O calendário marca o ano de 2005, mas os fundamentalistas islâmicos exigem dos muçulmanos imitação perfeita de um comportamento tribal de 2.000 anos atrás. Maomé, o guia infalível, disse haver uma só verdade, e em seu nome revogou toda liberdade. Era um tirano, sim. Maomé seduziu e violou Zainab, a mulher de um pupilo. Isso não é perverso? Permita-me ir além. O profeta casou-se com Aisha, uma menina de 9 anos, filha do seu melhor amigo. Ele não esperou nem a criança atingir a puberdade, apesar da súplica paterna, para pedir a sua mão em casamento. Aisha foi prometida aos 6 anos de idade. Hoje no Irã, casamentos desse tipo são perfeitamente legais, freqüentes. Alguns muçulmanos reivindicam poder emular, sem entraves, esse modelo de moralidade. Trata-se de pedofilia pura. Na Holanda, Maomé seria levado pela polícia às barras de um tribunal.
Veja – Qual a diferença entre os fundamentalistas das diversas religiões?Ayaan – Em teoria, nada diferencia um fanático cristão ou judeu de um fanático muçulmano. Na prática, eles se sentem mais à vontade no Islã.
Veja – Por quê?Ayaan – Além de encontrar justificativa religiosa farta, a crítica dos membros de sua própria crença é quase nula. Quando o papa se posiciona contra o uso de contraceptivos, católicos do mundo inteiro contestam sem sofrer represálias. A cantora Madonna desperta antipatia em puritanos com a canção Like a Prayer, mas sua cabeça não está a prêmio. Ninguém degolou os humoristas do Monty Python por ter realizado o filme A Vida de Brian, uma sátira sobre Jesus Cristo exibida no mundo todo. Esse espaço de tolerância não existe no mapa do Islã, mesmo que muito almejado em silêncio. O Islã está como o pai do terrorista Mohamed Atta depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Traumatizado, desamparado, cego. “Meu filho não tem nada a ver com isso. Foi obra da CIA, dos judeus!” O pai não se deu conta da parte maléfica do filho. Recuso que uma religião, outrora pacífica, plena de força e energia, tenha no seu âmago o fanatismo e a violência.
Veja – Como a senhora descreve a situação das mulheres no Islã?Ayaan – Numa cena do curta-metragem Submissão – Parte I, a câmera mostra o corpo da personagem Zainab, espancada pelo marido. Zainab está coberta por hematomas, feridas, cicatrizes e pelos versos do Corão que autorizam o marido a bater, caso ele julgue a esposa desobediente. Os fundamentalistas islâmicos ficaram irados ao ver os versos sagrados escritos no corpo de uma mulher. O resto, para eles, é normal. Tive um professor que me obrigava a escrever versos do Corão em tabulários. Um hábito em desuso desde o século XVI. Um dia, recusei-me a obedecer. Ele me vendou os olhos, levei uma surra até conseguir me livrar da venda. Encolerizado, ele me pegou pelos cabelos e bateu minha cabeça contra um muro. Desmaiei.
Veja – Como a platéia não religiosa respondeu ao filme?Ayaan – De forma positiva, mas eu esperava uma dose maior de indignação dos liberais laicos, intelectuais e políticos da esquerda. O pessoal que acha ter o monopólio dos bons sentimentos. Na verdade, eles padecem do velho paradoxo da Revolução Francesa, que promoveu os direitos humanos em casa, mas manteve a escravidão nas colônias. Em nome da convivência multicultural, do respeito às tradições de outrem, esses intelectuais do Ocidente hesitam em colocar em evidência a situação subjugada da mulher dentro do Islã. Eles têm receio de ofender, de suscitar cólera, e assim ajudam a perpetuar o sofrimento e a injustiça. Ora, aqui não cabem relativismos. Abuso e mutilação sexual são crimes, e ponto final. Hoje, agora, já! Tampouco deve ser tolerado o assédio, a perseguição da qual são vítimas os homossexuais muçulmanos. Os ocidentais não podem fazer vista grossa nem calar, como já fizeram durante a existência dos gulags soviéticos. O Islã não viveu o Iluminismo. As sociedades islâmicas enfrentam os mesmos problemas do cristianismo anterior ao século XVIII. Ainda não se estabeleceu o justo equilíbrio entre razão e religião.
Veja – O que é a “obsessão do hímen”, uma expressão que a senhora utiliza com freqüência?Ayaan – No Islã, moças sem hímen intacto são consideradas “objetos usados”. Muitas jovens, ao perder a virgindade, vêm para a Europa submeter-se a cirurgias reparatórias. Na Holanda, até bem pouco tempo atrás, em respeito ao multiculturalismo as imigrantes muçulmanas eram reembolsadas pela seguridade social. Aos 5 anos, fui submetida à clitorectomia, uma prática encorajada pelos clérigos islâmicos. Essa é a maneira extrema de garantir a virgindade antes do casamento. Na falta de uma mulher disponível, a minha excisão foi feita por um homem. Relatórios da ONU revelam que 98% das meninas na Somália são submetidas à excisão do clitóris. Os outros 2% são a margem de erro.
Veja – Pode haver convivência pacifica entre o Islã e o Ocidente?Ayaan – Espero que sim. No entanto, posso afirmar sem equívoco, o Islã atual é incompatível com o estado de direito das democracias ocidentais. A sobrevivência das democracias ocidentais depende da sua vitalidade em defender os valores liberais. A escolha que o século XXI oferece aos muçulmanos é clara: modernidade ou regime tribal. Eu proponho às comunidades islâmicas fazer uma reflexão crítica da sua doutrina religiosa, a exemplo dos fiéis de todas as grandes religiões. Se dizem que é preciso rezar cinco vezes ao dia, vamos demonstrar, empiricamente, que isso é impraticável no âmbito de uma vida moderna. Eu proponho às comunidades islâmicas reter a espada que corta a cabeça de quem pensa por si mesmo. Onde não se pode criticar, todos os elogios são suspeitos. Caso eu estivesse num país muçulmano, já estaria morta. É do interesse tanto do mundo ocidental quanto do mundo islâmico promover a crítica entre os muçulmanos. Enfrentar o fundamentalismo é um objetivo comum.
Veja – Como foi seu encontro com o escritor britânico Salman Rushdie, que também teve de viver escondido por causa de ameaças religiosas?Ayaan – Trocamos impressões sobre a vida cativa. Ela coloca em risco pessoas próximas e, devido a isso, inibe até iniciar relacionamentos amorosos. Ele me aconselhou a seguir firme em frente, sem deixar que essa situação me enlouqueça. Ambos sabemos que haverá sempre um fanático em nosso encalço. Eu relatei a ele uma história da minha juventude. Quando o aiatolá Khomeini emitiu um fatwa contra Rushdie, eu era uma estudante devota da Escola Secundária de Meninas Muçulmanas de Nairóbi, no Quênia. Eu e minhas colegas ficamos, imediatamente, solidárias com o líder iraniano que tomava a defesa do sagrado Corão e punia o autor de um romance, suposta blasfêmia contra o profeta Maomé, nosso venerável guia. O fato vinha corroborar nosso aprendizado diário, a indignidade dos kafirs, os infiéis, os não muçulmanos. A primeira coisa que veio a minha cabeça foi: “Esse Rushdie deve ser morto”.
Veja – O que ele disse?Ayaan – Rushdie sorriu. Foi gentil ao lembrar que, na época, eu era apenas uma garota.
Veja – Por que a senhora propõe fechar as escolas muçulmanas na Holanda?Ayaan – Os professores das escolas muçulmanas holandesas ensinam a ser hostil às leis do país. Dizem aos seus alunos: “Nós vivemos na terra do inimigo, somos subjugados pelas leis dele. A lei suprema é a vontade de Alá, revelada pelo arcanjo Gabriel a Maomé, transcrita no Corão”. Esses estabelecimentos de ensino público recebem ajuda do governo. Não, não e não! A escola deve ser um lugar neutro, com o objetivo de preparar os alunos para a vida numa sociedade sintonizada com seu tempo, fundada no espírito crítico e no ensino da cidadania. Os holandeses, que vivem em um dos países mais tolerantes da Europa, ficam exasperados de ver, em manifestações de rua, jovens muçulmanos holandeses gritando “Hamas, Hamas! Judeus para a câmara de gás!”.
Veja – A Turquia deve ser aceita como integrante da União Européia?Ayaan – Sim, desde que o governo turco implemente, durante o período de candidatura, as medidas exigidas pela União. Elas beneficiarão os turcos em geral e, em particular, as mulheres muçulmanas, que terão seus direitos mais bem respaldados. Já se percebem alguns passos tímidos nessa direção. A questão geográfica, se a Turquia pertence ou não à Europa, é hipócrita. Por trás dela estão o preconceito da extrema direita nacionalista européia e o medo da competição de mercado que atormenta os partidos da esquerda demagógica. A objeção geográfica nunca foi apresentada quando convidaram a Turquia para ingressar na Otan. Negar a inclusão da Turquia reforçaria a posição dos fundamentalistas muçulmanos turcos. Trava-se atualmente uma batalha de corações e mentes contra o islamismo político. Veja os efeitos catastróficos da tortura a que soldados americanos submeteram os prisioneiros iraquianos da penitenciária de Abu Ghraib. Os fundamentalistas acharam ótimo.
Veja – Líderes das comunidades muçulmanas européias a acusam de projetar uma experiência de vida traumática sobre um grupo inteiro. Aceita essa crítica?Ayaan – Isso é uma estratégia conhecida para desviar-se da verdadeira questão: o Islã quer ir para a frente ou para trás?
Veja – A senhora abandonou a sua religião, tornou-se apóstata. Mas, se um dia encontrasse com Deus, o que gostaria de ouvir dele?Ayaan – Você é verdadeira.
Fonte Veja http://veja.abril.com.br/220605/entrevista.html

Sessão Secreta, claro! Caso Renan Calheiros.

setembro 12, 2007

Está acontecendo agora no país a primeira votaçâo por cassação ou não de um presidente do senado, que, por incrível que pareça se manteve no cargo enquanto acontecia todo o processo,
incrível!
Mesmo que a maioria no país não aprove, a sessão será secreta.
Abaixo, Arnaldo Jabor.
Não há mais respeito…nem pela mentira!”